quarta-feira, 26 de março de 2008

Polémica em Maraú

A melhoria da BR-030 e seu possível asfaltamento, ainda este ano, abriram a porteira para o turismo de massa e ameaçam depredar a Península de Maraú, um patrimônio ambiental localizado na Baía de Camamu (a 428 km de Salvador), a terceira do País em extensão. A região inclui lugarejos como Barra Grande, Taipus de Fora, Saquaíra, Cassange e Algodões, que abrigam praias com piscinas naturais, manguezais e mata virgem.

As más condições da estrada era fator limitante para a entrada de visitantes, que só tinham acesso à península de barco, a partir do município de Camamu.

Diante da ameaça, moradores do povoado de Barra Grande, que fica na ponta da península, distante 35 km do centro de Maraú, querem disciplinar o fluxo turístico nessas áreas. Em documento, eles pedem à prefeitura o cumprimento do Código de Posturas Municipais e à Câmara de Vereadores a aprovação de uma lei instituindo uma taxa de turismo na península de Maraú.

Segundo a corretora de imóveis, Maria das GraçasMelo Malaquias, todos concordam que o turismo de massa não é viável em Maraú, mas ainda não há consenso sobre o fechamento da BR-030. Dona de uma pousada em Barra Grande, Gal Melo afirma que vai ser difícil convencer parte da comunidade de que o excesso de gente e de carros não é garantia de que todos vão ganhar mais dinheiro.

DEMANDA - Para a baiana de acarajé Maria da Hora Santos, um ponto turístico não pode se desenvolver se não recebe muitos visitantes. "Para mim, quanto mais gente melhor, porque em vez de vender 50 ou 60 acarajés por dia eu vendo 200", diz. Além do disciplinamento, Gal Melo destaca que será preciso fazer um trabalho consistente de divulgação dos pontos turísticos.

"Tínhamos um turismo selecionado, com gente educada e animada, mas sem exageros", assinala Gal. Este ano, com a abertura da BR-030, ela considera que o verão acabou no Réveillon. Sidnelson José Lima, gerente de uma pousada, reforça o argumento: "São grupos que bebem muito, brigam e depois vão embora deixando um rastro de problemas". Ele reconhece que todos têm o direito de ir e vir, mas defende o estabelecimento de um limite, para evitar um desastre ambiental.

Lima destaca que o engarrafamento de veículos e o barulho tiraram a tranqüilidade da região, um dos aspectos preferidos dos turistas que visitam Maraú. Ele teme que as mudanças afastem os turistas de melhor poder aquisitivo, obrigando as pousadas a praticarem preços mais baixos.

Para o pequeno empresário André Tavares, o turista que deixa dinheiro vem de barco. "Eles freqüentam restaurantes e pousadas e dão lucro à comunidade. Os arruaceiros vêm de carro, aprontam e vão embora". Tavares tem uma lancha que faz transporte e passeios pela baía.

Na opinião do morador Edezildo Santos Rocha, o problema de Barra Grande e vizinhança é a falta de infra-estrutura. Sua maior preocupação é com o lixo gerado. Ele considera que as pessoas são mal-educadas e ressalta que nem mesmo os donos de pousada esperam para colocar o lixo na porta quando o carro da coleta passa.

Outro problema é a falta de saneamento básico. A comunidade usa sistema de fossas e nem todas são sépticas, o que já deve ter contaminado o lençol freático, comprometendo o abastecimento de água, feito em poços ar tesianos.

Segundo o secretário municipal de Administração, Antônio Vasconcelos, o desejo das comunidades da península é o mesmo da prefeita Vera Sarmento. Ele diz que a prefeita planeja fechar a BR-030, mas ainda não o fez porque quer discutir a questão com a comunidade e os empresários locais.

O secretário afirma que está em vigor, desde setembro do ano passado, o Decreto nº 357, proibindo a implantação na península de qualquer empreendimento que não tenha infra-estrutura de água, esgoto, energia e coleta de lixo. Ele acrescenta que o município está pedindo à Justiça a imissão de posse de 400 metros quadrados, negados pelo dono de numa área de mil hectares, onde há um manancial que pode abastecer a sede e os povoados com água de qualidade.

Fonte: Jornal A Tarde